domingo, 6 de janeiro de 2008


Luiz Pacheco, 1925-2008




Luiz Pacheco foi, talvez, um ícone duma certa Lisboa. Como diz João Pedro George no "Público" - "tipo humano singular e irrepetível".

Foi no blog "Esplanar", de que JPG fazia parte, onde li uma excelente entrevista a Luiz Pacheco. Foi, também, pela 'pena' de JPG que tive acesso a uns textos seus. Podem ler-se aqui.

Não resisti a copiar o post de Armando Rocheteau no "2+2=5",

"Em toda a cidade que dorme e respira, eu luto com a dispneia e escrevo. Em toda a cidade que repousa e se esquece, na Avenida dos Combatentes eu debato-me contra a morte e escrevo diante da minha pequena tribo que dorme. A tribo dorme: a Lina mostra um punho fechado (ideias avançadas terá a mocinha?); o rapaz está de costas e quase destapado (parece um Cupido cansado; na larga queixada, porém, uma expressão terrena, máscula - a cara camponesa e rude do avô Matias); o bebé ressona ou balbucia qualquer uma esperança que só ele entende. Ela, a Irene, a minha pequena deusa de tranças loiras, encosta-se a mim e calada cálida repousa cansada. Sou um deus grego ! Fauno serôdio, Pan sem flauta, Orfeu decaído de quantas desilusões e frios cinismos, um Vulcano cornudo às ordens de Vocências, do meu espaldar senhorial contemplo o rebanho provisório que inventei, patriarca e profeta do meu próprio futuro. E receio, oh como receio, que os deuses a valer me castiguem! E desejo, oh como desejo, que chegue a manhã e eu esteja respirando ainda pelos foles dos pulmões que o enfizema vai dilatando minguando a elasticidade; que o meu coração eia! sus! bata ainda quando, num quintal que não sei, perto, o galo canta.

COMUNIDADE"


Luiz Pacheco será cremado terça-feira.

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