domingo, 11 de novembro de 2007


"Um sonho americano"




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Uma leve náusea, parecida à depressão com a qual uma pessoa pode acordar todas as manhãs durante anos, andava à deriva nos meus pulmões. Se alegasse loucura temporária, Leznicki e eu seríamos irmãos, estaríamos na eternidade muito juntos, em fila indiana, marcando passo. Não obstante, senti-me tentado, porque me haviam reaparecido o vazio no peito e a sensação de vácuo no estômago. Não tinha a menor certeza de poder continuar. Não, interrogar-me-iam interminavelmente, diriam verdades e mentiras, tão depressa se mostrariam amigos como inimigos e, entretanto, eu continuaria a respirar o ar daquela sala, com os seus cigarros e charutos, o café que sabia a cafeteira suja, o cheiro distante a instalações sanitárias e lavandarias, a depósitos de sucata e de cadáveres, veria paredes verde-escuras e tectos branco-encardidos, escutaria murmúrios subterrâneos, abriria e fecharia os olhos sob a luz abrasadora das lâmpadas eléctricas, viveria num túnel de metropolitano, durante dez ou vinte anos, e de noite dormiria numa cela sem nada que fazer além de deambular no chão de pedra. Morreria de torpores intermináveis e projectos caducados.
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Norman Mailer, Um sonho americano

Norman Mailer nasceu em 1923 e morreu ontem.

1 comentário:

Madame Maigret disse...

Bon soir, Cécile.
Foi com muito prazer que a encontrei nesta passeata ao crepúsculo. Não sei se alguma vez ouviu falar de mim. É possível que não. Ao contrário de Norman Mailer, sempre fui personagem muito secundária...:)
Tenho um bom resto de dia.